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Conselhos mudos

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Não vou ocupar muito do seu tempo contando a minha história. Você parece ser impaciente demais pra escutar sobre um passado tão velho que cheira a mofo.
Nasci em 1927 e nesses 86 anos de vida vi o mundo mudar. Fui criança na Era Vargas e recebi as cartilhas de Getúlio. Vi o início, meio e fim da Segunda Guerra Mundial. Tornei-me médico, casei com Amara em 1958, tive dois filhos. Cantei “Chega de Saudade” e “Desafinado”.  Vi o auge da opressão na Ditadura Militar e presenciei sua queda. Comemorei a Nova República. Estoquei mantimentos por causa da inflação. Meus filhos casaram-se e foram viver em Santa Catarina.  O câncer de mama levou minha esposa aos 52 anos. Aposentei-me.

Vivo só. Tenho um bom apartamento, bem ventilado, grande. Grande demais. Da televisão vem o único som que preenche o lugar. Passo o dia sentado na poltrona passeando pelos canais da TV. Antes lia muito, agora a visão cansada não permite mais.
Se me sinto sozinho? Não. A solidão é a liberdade que dou aos meus filhos de viverem suas vidas. Além do mais, acostumei-me a ela. Melhor estar na ausência de pessoas do que rodeado de companhias vazias.

Todos os dias o Raimundo, meu taxista, me pega em casa às 12h. Como você vê diariamente, almoço aqui no shopping. Gosto de sentar e olhar ao redor, analisando as pessoas que passam. Não é por querer que os velhos adquirem esse rosto de sabedoria muda. É pelo muito pensar. Tenho um mundo particular aqui dentro, que adoraria aconselhar cada pai apressado, cada mãe irritada, cada filho mal educado. Gostaria de dizer-lhes que a única garantia que temos quando nascemos, é que vamos morrer um dia. Vivemos como se nunca fosse acontecer conosco, como se a morte fosse uma piada de mal gosto que ninguém quer fazer parte. Um puxão repentino que te leva pra debaixo da terra, e não te dá tempo de despedir-se de ninguém. Não te dá tempo de arrumar as malas, guardar os papéis, doar o dinheiro acumulado que não vai mais te servir de nada. Não te dá tempo de acalmar as pessoas ao seu redor, de prepará-las pra sua eterna ausência e evitar a perplexidade. 
Mas, quem escuta gente velha?

Preferem olhar-me com curiosidade, sorrindo dos meus passos vagarosos, irritando-se quando atrapalho seu percurso corrido, ou ainda sentindo pena do velho solitário no meio do shopping. Não entendem que talvez, daqui a alguns anos, estarão eles também no meu lugar. Terão dificuldade pra andar, enxergar, ouvir e compreender. Precisarão de ajuda ao atravessar a rua. Isso se não partirem antes, no meio de um tiroteio, por causa de uma doença repentina ou de um motorista embriagado. Isso se não deixarem seus filhos perguntando o porquê tão cedo. E terão todas as pistas da sua existência apagadas pelo tempo.

Meus filhos chorarão a minha morte. Meus netos, lembrarão de mim por algum tempo e quem sabe, citarão meu nome em um jantar de família com os bisnetos que não conheci. Com alguma sorte, terei uma fotografia amarelada no velho álbum de retratos esquecido dentro do armário. Logo, o álbum também não existirá mais. Em pouco tempo, todo o legado da minha existência desaparecerá. As gerações seguintes carregarão o meu sobrenome, sem jamais saber quem fui. E assim acontecerá com você também.
Você pode trazer a conta?

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censura, Crítica, opinião, sociedade

Quando a arrogância censura o conhecimento

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Dr. Rodrigo Silva(à esq.), um dos palestrantes do evento 
e o físico Leandro Tessler, que mobilizou professores contra o Fórum.  

“Posso não concordar com uma palavra do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo” 
(Voltaire)
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) cancelou o “1° Fórum de Filosofia e Ciência das Origens” que aconteceria na quinta-feira, 17. A universidade cedeu às pressões de professores ateus da própria instituição, que alegaram não ser a Unicamp o lugar adequado para discutir sobre o Criacionismo. “Que façam isso numa igreja”, disse o professor de física Leandro Tessler. “É embaraçoso dar credibilidade a esse tipo de doutrina não científica.” 
O fórum contaria com a presença de estudiosos do tema, como o geólogo Nahor Neves de Souza Jr., o físico americano Dr. Russell Humphreys, o jornalista Michelson Borges, o químico Dr. Marcos Eberlin e o arqueólogo Dr. Rodrigo Silva – todos ligados ao criacionismo científico. 
Três dias antes do evento, o Fórum foi cancelado. A Unicamp, em nota oficial, explicou o cancelamento dizendo que “faltavam integrantes que pudessem debater o tema sob todos os pontos de vista”. O professor de matemática Samuel Oliveira criticou o evento. “Criacionistas não têm formação para falar de ciência”, diz.

Em contrapartida, os palestrantes se manifestaram. O químico Marcos Eberlin – professor da Unicamp – escreveu em um blog: “Infelicidade é notar que a melhor universidade brasileira se deixa guiar pela opinião subjetiva de alguns e, mais uma vez, de última hora, impede a exposição de argumentos.” O professor de arqueologia Rodrigo Silva afirmou: “Fomos boicotados por um grupo de professores ateus. Hoje, quem discorda de Darwin é queimado na fogueira.”

Veja aqui a notícia na revista Istoé, as críticas do professor Leandro Tessler e a resposta do Dr. Rodrigo Silva.

Quando li a matéria da revista Istoé, não pude deixar de notar a semelhança do fato com o que ocorria na Igreja Medieval – que não permitia opiniões e posições contrárias aos seus dogmas – acontecendo em pleno século XXI. Assim como a Inquisição, os professores da renomada universidade usaram desculpas e fracas justificativas para evitar a exposição de argumentos contrários às suas ideias. Em sua arrogância, fecharam as portas para o que serviria de conhecimento e formação de opinião de seus alunos – afinal, é assim que eu, enquanto aluna, formo minha opinião sobre determinado assunto: depois de escutar, estudar e analisar criticamente o exposto.
Professores abrem as portas. Nós, devemos escolher por qual delas entrar. Mas, se os mestres nos escondem aquilo que desprezam e nos oferecem apenas aquilo em que acreditam, que liberdade de pensamento há nisso? Que argumentos terei eu para defender uma teoria vazia, que repito por ter ouvido falar?

Não estou aqui para defender o mérito da discussão entre evolucionistas e criacionistas. Acredito sim, em Deus e na criação do mundo de acordo com a Bíblia. Porém, o que exponho aqui é a falta de diálogo e arbitrariedade sobre a informação. O que exponho aqui é o episódio lamentável ocorrido na universidade, que mostrou os defensores do evolucionismo – que um dia tiveram que lutar pelo direito de exibir suas ideias ao mundo – reprimindo o direito de expressão, agindo exatamente como seus opressores do passado. Acredito que o papel de uma instituição de ensino e seus educadores é incitar o debate, abordar temas diversos, incentivar o conhecimento humano, sem restrições. Infelizmente, esse não foi o primeiro caso de censura ao conhecimento e não será o último. 
Imagine só, que mundo diferente teríamos se fôssemos tolerantes e abertos ao diálogo sobre os assuntos que discordamos ou até mesmo, não conhecemos? Imagine que loucura aprender a debater e a escutar opiniões diferentes das nossas?  

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amor, Crítica, feminismo, mulher, opinião, sociedade

Mulherzinha

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Um mês antes do Dia dos Namorados, decidi começar a fazer um scrapbook. Comprei um caderno pequeno, personalizei as páginas, colei fotos, recortei papéis coloridos, elaborei frases, comprei fitas e botões. Tive um trabalho imenso, fiquei acordada até tarde por várias noites seguidas para conseguir terminar a tempo. Em outra data comemorativa, presenteei meu namorado com um baralho personalizado – cada carta continha um motivo para amá-lo. Foram 52 cartas com frases e colagens. E enquanto eu cortava, colava e escrevia, observava os olhares curiosos – e atravessados – da família. Traduzindo o que sua mente pensava no mais delicado eufemismo que conseguiu encontrar, minha irmã disparou: “Você é mulherzinha.”
E sou mesmo.
Gosto de surpresas e de cuidados. Abrir a porta do carro, diminuir a velocidade do passo pra acompanhar a minha tentativa de equilíbrio em cima de um salto, flores, ligação pra dar bom dia, atitudes inesperadas, demonstração de interesse no que falo – mesmo que não seja nada interessante. Relacionamento é zelo. E tem que ser via de mão dupla.

Não nasci pra fazer papel de homem. Pode me chamar de ultrapassada e antiga. Pode me dizer que estamos no século XXI e que o tempo da sociedade patriarcal passou. Pra mim, algumas coisas simplesmente não deveriam mudar. Homem tem que pedir em casamento, homem tem que ser provedor, homem tem que ser homem. E entenda bem: ser homem não significa ser um macho primitivo, ignorante e grosseiro. Não significa pagar a conta e por isso, sentir-se no direito de maltratar sua companheira. Não significa inferiorização. Não significa colocá-la em uma posição humilhante e submissa a todas as suas vontades. 
Significa mais do que qualquer outra coisa, ter afeto, cuidado e atenção. 
Por outro lado, também não nasci pra ser Amélia. Cozinho – mal – por brincadeira, não tenho dom para ser faxineira, nem quero viver uma vida anulada em prol da criação dos filhos. Quero uma carreira, ter meu dinheiro, encontrar com minhas amigas de vez em quando e tempo para academia. Mas, ainda quero aprender sim a cozinhar, quero manter a minha casa organizada e limpa, quero educar meus filhos da melhor forma que puder. E quero um marido que me ajude em tudo isso. 
Aplaudo em pé e agradeço pelas conquistas que o movimento feminista trouxe para as mulheres. Mas, acredito que as coisas perderam o foco. Bacana a igualdade entre homens e mulheres no que diz respeito à remuneração, direito a voto, e tudo mais. Pra mim o foco se perde quando vejo mulheres defendendo que podem e devem comportar-se como homens. Perder as contas de quantas beijou numa noite, ir pra cama com outras várias, trair e beber até cair: tudo isso é feio quando é feito por um homem. Mas, torna-se ridículo quando feito por uma mulher. Não somos iguais – é contra a própria natureza afirmar o contrário – e só quem perde querendo igualar-se em comportamentos tão degradantes é a própria mulher. 
Nós mulheres somos capazes sim, de sustentar uma família. Podemos ter voz de comando dentro de casa, podemos trabalhar e deixar nossos maridos cuidando dos filhos. Podemos pagar ou dividir uma conta. Podemos fazer um casamento surpresa pro nosso namorado porque estávamos com vontade de casar e faltou atitude da parte dele. Mas, no fundo, não queremos isso. Cada um de nós exerce funções fundamentais dentro de um relacionamento. A medida de todas as coisas tem que ser o equilíbrio e não a luta entre duas forças tão distintas – mas que se completam. 
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Crítica, escravidão, opinião, sociedade

A falta que Castro Alves faz



“Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito…
Onde estás, Senhor Deus?…”
(Vozes d’África – Castro Alves)
Tenho uma paixão em particular pelos escritos de Castro Alves. Anos atrás houve uma feira cultural na escola em que eu estudava e lá recitamos – eu e vários outros colegas – o poema Navio Negreiro, um dos mais conhecidos da literatura condoreira. Mesmo depois de tantos anos, permanecem em minha memória várias estrofes, tanto de Navio Negreiro, quanto de Vozes d’África– que apesar de não ter participado da encenação, ouvia diariamente os ensaios e assim, foi inevitável decorar. Sempre que me lembro de um dos versos, transporto-me para a realidade dos escravos de muitos anos atrás. Relendo os poemas pela internet, acabei descobrindo que no dia 13 de maio deste ano a Lei Áurea completou 125 anos. Entretanto, a luta a favor da liberdade permanece.
Imigrantes de países como Bolívia, Paraguai, Peru e Haiti – que enfrentou um terremoto devastador – vêem no Brasil uma possibilidade de mudar de vida. São aliciados dentro de seu país, atraídos pelas promessas de emprego. Ao chegarem aqui, se descobrem ligados ao empregador pelos custos de viagem, tendo assim sua liberdade comprometida por ameaças e dívidas. Com seus documentos confiscados, são obrigados a trabalhar em regiões normalmente afastadas. Apesar de viverem anos à frente da escravidão do Brasil Colônia e Império, as condições de vida são semelhantes. A privação de liberdade e a falta de humanização são comuns tanto ao escravo de mais de um século atrás quanto ao imigrante da atualidade.
Com a crescente necessidade de mão de obra, a indústria capitalista procura mão de obra barata – senão, gratuita – para manter-se no mercado. Aliando isso ao interesse dos estrangeiros no país, gera-se a exploração desumana do trabalho. O grande problema é que esses imigrantes, apesar da vida degradante que levam aqui, não querem ser encontrados pela fiscalização por medo de serem deportados. Para eles, a realidade de exploração não é pior da que viviam em seu país de origem. Nutrem a esperança de um dia terem uma vida melhor.
Infelizmente, ignoramos a possibilidade de estarmos vestindo neste instante uma camiseta feita por um ser humano que atravessa dia após dia jornadas de trabalho absurdas, alimentação escassa e condições inadequadas de higiene e moradia. Para erradicar o trabalho escravo contemporâneo seriam necessárias medidas severas: obrigar aqueles que burlam as leis a cumpri-las – coisa que no Brasil não existe.

Imagino – e torço para que tenha sido – inevitável a sua comoção ao se dar conta que existem homens e mulheres sofrendo para que você possa vestir uma roupa mais barata. Mas amanhã, infelizmente, você já terá se esquecido de tudo o que leu. Omitirá do seu pensamento as palavras deste texto. Que bom seria se tivéssemos um Castro Alves nos dias de hoje para imprimir em nossas mentes um pouco de comoção mais duradoura e, principalmente, ação.  
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Crítica, opinião, sociedade

A ilusão que nos vendem

Dias atrás folheando revistas me deparei com uma capa que – não poderia ser diferente – parei pra observar. Uma loira nua, cintura fina, bumbum homérico, com um sorriso no rosto. Voltei pra casa com um pensamento na cabeça: o que nos vendem é a insatisfação permanente. Para as mulheres, a insatisfação de nunca alcançarem o corpo perfeito que vêem na televisão. Para os homens, a insatisfação de nunca terem ao seu lado a loira de sorriso sedutor que viram nas revistas. As consequências são catastróficas. As mulheres estão mais insatisfeitas com sua imagem refletida no espelho, reduzindo sua auto-estima a pó cada vez que se deparam com um corpo estereotipado. Os homens, que tem ao seu lado uma mulher real – com poros, estrias e celulites, tudo aquilo que não aparece nas imagens que vêem – permanecem em sua busca pelo prazer ligado ao corpo perfeito através de sites, revistas e preenchendo quartos em casas de prostituição, à procura da mais gostosa, do maior bumbum, do peito mais durinho. É uma ilusão insaciável.
Faça um teste. Olhe para uma revista como essas que existem aos montes nas bancas. Observe a beleza inalcançável e a irrealidade. Agora, olhe ao seu redor. Veja como somos diferentes do ideal que nos é vendido. Colocam em nossas mãos inúmeras obrigações: seja gostosa, tenha sucesso na vida profissional, seja inteligente, esteja na moda, aprenda a cozinhar, tenha sempre um sorriso no rosto. Colocam em nós o descontentamento para logo em seguida nos venderem dietas e mais dietas, novos exercícios para fazer em casa, as tendências da estação, mil e uma dicas para conquistar um homem e as receitas para a felicidade. Falta bom senso. E infelizmente em nós, falta capacidade de não aceitar tudo aquilo que nos é imposto, de criticar o ridículo.
Não defendo aqui o desleixo. Pelo contrário, frequentar uma academia, alimentar-se corretamente, ter um trabalho satisfatório e vestir-se bem nunca fez mal a ninguém. O problema é quando o irreal torna-se o almejado, quando nos escravizamos a um modelo inalcançável. Somos humanos, de carne, osso, sentimentos, defeitos, que lidam com a gangorra que é a vida. Temos problemas, enfrentamos o dia a dia, pensamos. E temos poros, celulites, estrias, rugas. Um dia ficaremos velhas. Assim como ficarão velhas as capas de revista. E depois que a gravidade der seu recado – coisa que certamente fará – não restará nada se não cultivarmos o resto. Bombardeados pelo exterior, nos tornamos carentes de sentimentos reais. Deixe os estereótipos para serem olhados. A pressão para tornar-se o que você não é, só vai criar frustração. 
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Crítica, opinião, sinceridade, sociedade

Mulher: pedaço de carne. Até quando?

As notícias repugnantes que venho lendo nos jornais nesses últimos dias têm me causado um enorme sentimento de revolta.
Pastor Marcos Pereira é acusado de estupro
O pastor Marcos Pereira da igreja Assembléia de Deus dos Últimos Dias foi preso nesta terça-feira acusado de cinco estupros. Além dos estupros que motivaram a prisão, o líder religioso é investigado por um homicídio, ligação com o tráfico de drogas e por promover orgias sexuais. Marcos Pereira dizia para as vítimas que elas estavam possuídas pelo demônio e por isso, precisavam ter relações sexuais com uma pessoa santa.
Estuprador do ônibus: informações sobre o criminoso devem ser passadas ao Disque-Denúncia, pelo telefone (21) 2253-1177
Um menor de 16 anos entra em um coletivo da linha 369(Bangu-Carioca) no Rio de Janeiro por volta das 15h30 da última sexta-feira. Armado, anuncia o assalto e dá ordens ao motorista para continuar dirigindo. Ordena que todos os passageiros dirijam-se ao fundo do ônibus e que um deles recolha todo o dinheiro, enquanto obriga uma mulher a voltar com ele para um dos bancos da frente. Ali, a estupra.
Wallace Aparecido Souza Silva, de 22 anos, e Jonathan Foudakis de Souza, de 20, e Carlos Armando Costa dos Santos, de 21 anos: acusados de estuprar americana em uma van no Rio de Janeiro
Uma americana que morava em Copacabana e estava no Rio para estudar, entra numa van juntamente com o namorado francês. Após darem ordem para que os outros passageiros desçam do veículo, Jonathan Froudakis de Souza, 19 anos, Wallace Aparecido Souza Silva, de 21 e Carlos Armando Costa dos Santos, também de 21, estupram a americana 8 vezes, enquanto agridem o rapaz. Uma brasileira também acusou os mesmos homens de violentá-la, mas infelizmente, o caso só tomou notoriedade quando o casal estrangeiro foi vítima.
Perco as palavras ao definir o nojo que sinto ao ler coisas assim. O pior é saber que existem pessoas que julgam o estupro como sendo, muitas vezes, culpa da vítima. Uma roupa mais curta e estar na rua à noite sozinha são vistos como provocação que causam no homem irracional a falta de controle. Nós, mulheres, somos vistas como pedaços de carne, submissas, acostumadas a escutar desrespeitos até dos pedreiros de uma construção. Essa cultura acaba por gerar homens perversos, sem remorsos, que ignoram o fato de que a mulher que encontra-se ali na sua frente – aterrorizada – é um ser humano. E não, não pense que todos os criminosos sexuais têm doenças psicológicas. Muitos deles julgam-se imbatíveis, superiores. Imunes, escondidos atrás de leis antigas – que os condenam e posteriormente os favorecem – confiam-se no medo das vítimas e na impunidade. São monstros nascidos do machismo. Quando isso tudo vai mudar? Não vai. Enquanto leis mais duras não forem aplicadas e a educação torne-se o meio de remover todo o lixo existente no Brasil, crimes assim continuarão a acontecer. O que precisa ser feito, todos nós sabemos. Mas, a que situação extrema o país precisará chegar para que a honestidade, moralidade e senso de justiça prevaleçam? 
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Você tem um amor pra vida inteira?

O amor nos cerca. Nas revistas, o amor entre duas celebridades. Na televisão, o romance complicado entre o casal protagonista. Nos dias comemorativos, a paixão é vendida em forma de corações de chocolate, flores e cartões. Nas redes sociais, declarações melosas e juras de amor eterno. Vivemos a era dos relacionamentos descartáveis. Cada vez mais cedo adolescentes começam a namorar. Cada vez mais cedo, casamentos são realizados – ou por amor ou pela obrigação que uma gravidez indesejada implica – e cada vez mais cedo, são desfeitos. Afinal, pra quê continuar em um relacionamento se as coisas estão difíceis, enquanto existem inúmeras outras opções pra se escolher? O anel no dedo não significa mais comprometimento e a fidelidade é quase inexistente.
Na contramão do mundo, chego a pensar que errada sou eu – errada, quadrada, ultrapassada ou conservadora, como queira chamar – por ainda crer em amor pra vida inteira, fidelidade, companheirismo e persistência. Por mais que tente, não consigo compreender um amor que trai. Por mais que tente, não consigo entender como o sexo tornou-se o máximo de profundidade que os relacionamentos conseguem alcançar. Acredito na felicidade a dois, na determinação em vencer desafios diários por ter um porto seguro ao lado e, principalmente, acredito em lealdade.
A história de Chris Medina e Juliana Ramos é um exemplo que me faz permanecer acreditando. Chris participou do show American Idol e lá contou sua história. O casal estava noivo há dois anos e formavam um belo casal. Dois meses antes do casamento, no dia 02 de outubro de 2009, o carro de Juliana foi atingido por um caminhão. A jovem bela e sorridente quase não resistiu à fratura no crânio que a deixou desfigurada. Em homenagem à Juliana, Chris escreveu a linda música “What are words”:

“Onde quer que esteja, estou por perto
Em qualquer lugar que você vá, eu estarei lá
Sempre que você sussurrar meu nome, você verá
Como eu cumpro cada promessa
Porque que tipo de cara que eu iria ser
Se eu te deixasse quando você mais precisa de mim’’

Talvez alguém me diga que preciso aprender da vida através de duras lições que exemplos assim são raros e que a dor que endurece o coração me tornará diferente do que sou hoje. Entretanto, prefiro fechar os olhos pro pessimismo e desilusão do mundo. Não vejo sentido em viver de superficialidades e em disfarçar o medo do envolvimento, enquanto a única coisa que realmente se deseja é uma companhia sincera. Hoje tenho ao meu lado o homem que amo, com quem pretendo estar pelo resto dos meus dias. Isso é mais que suficiente pra deixar de lado toda a descrença.
E você? Tem um amor pra vida inteira ou um amor descartável? 

Pra quem não conhecia a história, veja o vídeo abaixo. E a música ‘What are words’ vale a pena ser ouvida!
Chris Medina e sua história – American Idol

What are words – Chris Medina

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Crítica, opinião, sociedade

Opinião: PEC 33 e PEC 37

Durante os últimos dias fomos bombardeados por notícias sobre as propostas de emenda constitucional número 33 e número 37. Admito não ser ligada em política, leio superficialmente para me informar do que acontece, mas não acompanho assiduamente os movimentos dos políticos no nosso país. Entretanto, ao ver uma crítica do Arnaldo Jabor (veja o vídeo aqui) sobre o assunto, me interessei e procurei saber mais.

Entenda do que se trata: 

A PEC 33 – Projeto de Emenda à Constituição nº33, protocolada em 2011 pelo deputado federal Nazareno Fontelles do PT-PI, visa impor limites ao poder do Supremo Tribunal Federal. Aprovada no dia 24 de abril deste ano pelo Comitê de Constituição e Justiça (CCJ), tem como pontos principais:

  • Quando o STF decidir pela inconstitucionalidade de uma emenda à Constituição, o Congresso poderá reavaliar o ato do tribunal. Se houver discordância, tal questão será decidida em plebiscito. 
  • Passam a ser necessários os votos de nove dos 11 ministros para que uma lei seja considerada inconstitucional. Atualmente, bastam seis votos. 
  • A aprovação de súmulas vinculantes transfere-se do Supremo Tribunal Federal para o Congresso. 


 A PEC 37 – conhecida como PEC da Impunidade -, pretende tirar o poder de investigação criminal dos Ministérios Públicos Estaduais e Federal, que atua na averiguação de crimes cometidos por agentes públicos e organizações criminosas, além de controlar externamente a polícia. Se aprovada, estas investigações serão inviabilizadas. Somente três países vedam a investigação do Ministério Público: Indonésia, Quênia e Uganga. 


O que acontece é uma luta de poderes, que deveriam estar em harmonia, como propôs Montesquieu. Em sua Teoria da Divisão dos Poderes a autoridade seria distribuída, evitando assim a arbitrariedade e violência. Essa separação de poderes é, ainda hoje, um dos pilares da democracia. Com esses projetos de emenda, fica clara a retaliação do Congresso contra o STF e o MP. Sutilmente, pretende-se calar ambos.
Dificilmente, as PEC’s 33 e 37 entrarão em vigor. Entretanto, fica o alerta para cada um de nós brasileiros. Nesse ritmo, em breve as mais absurdas emendas serão aprovadas pela acomodação da sociedade com o absurdo. Mesmo sem armas nas mãos e sem violência explícita, inicia-se um retrocesso da democracia. Democracia frágil, controversa, que ainda obriga eleitores a votar. Começa a surgir uma ditadura disfarçada, que aos poucos tenta calar o Ministério Público, a imprensa e o STF. Ditadura que disfarça PEC’s no modelo do AI-5 de 1968 com argumentos ofensivos à inteligência da população.


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Fui indicada a duas tags, uma pelo blog As Estórias da Carter da Jéssica e outra pelo blog As besteiras que me contam da Ju. A resposta das tags você confere AQUI! Espero que gostem! Beijos

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Crítica, sociedade

Enquanto isso, a sociedade perde o senso crítico.

Semana passada foi anunciada a nova formação da banda Charlie Brown Jr, que agora tornou-se A Banca. Com a morte do vocalista, Chorão, Champingnon assume os vocais e Lena Papini no baixo. Lendo sobre o fato, voltei-me para o dia em que Chorão morreu e a repercussão que o fato teve nas mídias sociais. A quantidade homérica de gente o intitulando poeta me abismou.

Então surge a pergunta: Onde ficam nessa história grandes poetas como Edgar Allan Poe, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa? Onde foi parar a capacidade de filtrar o que a mídia joga em cima de nós?
Sem hipocrisia, cada um de nós que fez parte dessa geração sabe cantar um trechinho que seja de uma das músicas do Charlie Brown, seja a abertura de “Malhação”, seja uma daquelas músicas que sempre tocavam no rádio. O meu ponto aqui são os extremos que surgem quando alguém de notoriedade passa dessa pra melhor. O processo natural, que é o de humanização – fez coisa errada, não era nenhum exemplo a ser seguido, mas era gente boa, bom coração – começa. E até ai tudo bem. Perceber que a vida é finita e que passa rapidamente nos sensibiliza, afinal, foi alguém que morreu e isso nunca vai ser natural para nenhum de nós. O problema é o que vem logo em seguida: a idolatria. Esquece-se das drogas, das escolhas erradas que fez e das consequencias que teve de arcar por causa delas. Já convivemos com tantos lutos na nossa vida. E não somente o luto relacionado à morte. Há pessoas que vivem o luto de pai por terem um pai ausente enquanto outras vivem o luto de mãe por terem uma mãe negligente. Já existem tantas coisas ruins pra termos pesar na nossa vida, pra quê mais? Não concordo com o extremo da canonização que as pessoas têm tendência a fazer. Se morreram é porque eram humanos assim como nós, com falhas e defeitos como nós. Entretanto, no outro extremo estão as críticas exacerbadas. O respeito a quem não pode mais se defender, à família e amigos tem que ser o limite pra comentários. Ninguém é bom ou mal em sua totalidade. Carregamos em nós ambos. É necessário percebermos que mais vale refletir sobre a nossa vida, em como ela é curta e mudarmos alguns comportamentos egoístas do que compartilhar inúmeras frases do cantor e colocar LUTO na nossa foto de perfil. A vida em sociedade não significa ser forçado à fazer parte da massa. A massa que compartilha fotos do Chorão porque todo mundo o fez, a massa que exalta os feitos de Margareth Thatcher sem ao menos saber quem ela foi e a contradição que representa, a massa que ignora o que é importante para se atentar ao que em nada lhes acrescenta. Não estou dizendo aqui que devemos adotar um comportamento exibicionista, indo contra tudo e contra todos para se mostrar diferente. Defendo o pensar. Defendo a individualidade e o senso crítico. Defendo o pensar antes de agir e falar. Somos influenciados sem perceber e acordar pra isso só vai fazer bem a nós mesmos.

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divagando, sinceridade, sociedade, textos

As verdades não ditas

Hoje, andando por aí nesse mundo de sites, me deparei com uma frase do Jô Soares que até já conhecia, mas que da primeira vez que li, não reparei de fato no que diz: “As pessoas estão tão acostumadas a ouvir mentiras, que sinceridade demais choca e faz com que você pareça arrogante.” Relendo e repensando, percebi que pra mim, não é bem assim.
De fato, nos rodeamos de mentiras. As mentiras que nos contam no telefonema pra operadora de celular, mentiras que vemos na televisão, sem falar nos falsos moralismos que lemos no Facebook o tempo inteiro. Poderia passar um bom tempo discorrendo sobre isso. Nos adaptamos a ouvir mentiras e enquanto não nos afetam diretamente, por nós, tudo bem. O problema dessa frase é colocar ‘sinceridade demais’ como algo virtuoso. Não raro, ouvimos alguém dizer preferir a sinceridade acima de tudo. Mas será que prefere mesmo? Será que estamos realmente dispostos a encarar a verdade? Que resposta você gostaria de ouvir quando pergunta a alguém se engordou?
Num sábado à noite, você e seu companheiro entram em um restaurante e a primeira pessoa com a qual ele se depara é com aquela ex que você definitivamente não gosta – mas não abre a boca pra dizer isso, afinal, seria parecer insegura demais. Mais uma verdade que você poderia dizer, mas não diz – e ele comenta sobre como ela está bonita. Fim da noite pros dois. Eu, particularmente, não me incomodo com algum comentário bem humorado sobre certa atriz (até porque, se eu fosse me importar com a Mariana Ximenes, coitada de mim). Mas, querendo ou não, sinceridade exige limite. Existem coisas desnecessárias de serem faladas, e isso independe de qual relação estejamos falando. E é importante perceber o quanto isso é diferente de falsidade. Os pais têm que ensinar a criança, que até certa fase não diferencia o que pode ser dito ou não, a falar o que convém. E ninguém chama isso de falsidade, pela distância existente entre a mesma e a conveniência. Todos nós sabemos como dosar essa distância, assim como também sabemos quando estamos sendo cruéis ao usar a sinceridade exacerbada.
Algumas coisas poderiam ser evitadas se tratássemos o que falamos com honestidade e zelo, furtando do nosso companheiro, amigo ou irmão de ouvir algo que vai machucá-lo e que não precisa ser dito. No calor de uma discussão, temos a tendência a falar deliberadamente sobre algo que vai gerar consequências terríveis no futuro. Algumas coisas ditas machucam profundamente e pra contorná-las exige tempo, dedicação e muita paciência.  Sinceridade é virtude quando é bem colocada. Quando passa do ponto, torna-se maldade. Entretanto, como em quase tudo na vida, meio termo é fundamental. Omitir a verdade necessária de ser dita pra quem está ao nosso lado com a desculpa de evitar sofrimento, é além de deslealdade, burrice. 

Say-John Mayer
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