Crítica, opinião, sociedade

Opinião: PEC 33 e PEC 37

Durante os últimos dias fomos bombardeados por notícias sobre as propostas de emenda constitucional número 33 e número 37. Admito não ser ligada em política, leio superficialmente para me informar do que acontece, mas não acompanho assiduamente os movimentos dos políticos no nosso país. Entretanto, ao ver uma crítica do Arnaldo Jabor (veja o vídeo aqui) sobre o assunto, me interessei e procurei saber mais.

Entenda do que se trata: 

A PEC 33 – Projeto de Emenda à Constituição nº33, protocolada em 2011 pelo deputado federal Nazareno Fontelles do PT-PI, visa impor limites ao poder do Supremo Tribunal Federal. Aprovada no dia 24 de abril deste ano pelo Comitê de Constituição e Justiça (CCJ), tem como pontos principais:

  • Quando o STF decidir pela inconstitucionalidade de uma emenda à Constituição, o Congresso poderá reavaliar o ato do tribunal. Se houver discordância, tal questão será decidida em plebiscito. 
  • Passam a ser necessários os votos de nove dos 11 ministros para que uma lei seja considerada inconstitucional. Atualmente, bastam seis votos. 
  • A aprovação de súmulas vinculantes transfere-se do Supremo Tribunal Federal para o Congresso. 


 A PEC 37 – conhecida como PEC da Impunidade -, pretende tirar o poder de investigação criminal dos Ministérios Públicos Estaduais e Federal, que atua na averiguação de crimes cometidos por agentes públicos e organizações criminosas, além de controlar externamente a polícia. Se aprovada, estas investigações serão inviabilizadas. Somente três países vedam a investigação do Ministério Público: Indonésia, Quênia e Uganga. 


O que acontece é uma luta de poderes, que deveriam estar em harmonia, como propôs Montesquieu. Em sua Teoria da Divisão dos Poderes a autoridade seria distribuída, evitando assim a arbitrariedade e violência. Essa separação de poderes é, ainda hoje, um dos pilares da democracia. Com esses projetos de emenda, fica clara a retaliação do Congresso contra o STF e o MP. Sutilmente, pretende-se calar ambos.
Dificilmente, as PEC’s 33 e 37 entrarão em vigor. Entretanto, fica o alerta para cada um de nós brasileiros. Nesse ritmo, em breve as mais absurdas emendas serão aprovadas pela acomodação da sociedade com o absurdo. Mesmo sem armas nas mãos e sem violência explícita, inicia-se um retrocesso da democracia. Democracia frágil, controversa, que ainda obriga eleitores a votar. Começa a surgir uma ditadura disfarçada, que aos poucos tenta calar o Ministério Público, a imprensa e o STF. Ditadura que disfarça PEC’s no modelo do AI-5 de 1968 com argumentos ofensivos à inteligência da população.


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Fui indicada a duas tags, uma pelo blog As Estórias da Carter da Jéssica e outra pelo blog As besteiras que me contam da Ju. A resposta das tags você confere AQUI! Espero que gostem! Beijos

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amor, pensamento, textos

Livro de cabeceira – A história do meu amor

Foi como olhar – de verdade – aquele livro de capa já conhecida, mas que eu nunca havia aberto pra ler. Nas primeiras páginas, não existiu um apego ao personagem principal porque eu ainda não o conhecia de verdade, meu coração estava duro demais pra embarcar numa aventura e de repente, ver o livro acabar, sem continuação, sem um final feliz, me desapontando. Não queria sentir meu coração endurecer um pouco mais. Mas, teimosa que sou, decidi continuar. O começo foi uma aventura que até tenho saudades às vezes. Folheei as páginas, com um pé sempre atrás, buscando pouco envolvimento. Mas foi impossível. Sabe quando aquele personagem te faz refletir a vida? Te faz viver sensações indescritíveis e te faz querer levar aquele livro pra onde quer que for pra continuar a leitura, seja na praia, no carro, no aconchego da tua casa? Pois é. Quando me dei conta, não tinha mais volta. O frio na barriga, o medo do desconhecido, começavam a passar.
Eu já conhecia o protagonista e já confiava nele. Foi engraçado como tantas vezes vi tudo – na vida real – desmoronar, e então corria pra minha leitura pra mergulhar no seguro, no conhecido, pra me devolver um pouco de fé e de noção. E tudo passava. Enfrentava todo o resto com sabedoria e calma, porque tinha quem me guiasse. Cada frase daquele livro tornava-se real, tornava minha cabeça e coração mais fortes.
Muitas vezes me vi lendo coisas que não conhecia, conselhos sem explicação. Teimei em confiar, sempre gostei das coisas bem claras. E sempre que insisti em não confiar, acabei arrependida. Fui aprendendo. As páginas passavam e cada dia me sentia mais ligada a tudo que lia, a tudo que acontecia. Algumas vezes passei por capítulos tristes, capítulos que davam vontade de acelerar a leitura, passar por cima das palavras pra que tudo aquilo que eu lia passasse logo. Mas acho que foi isso que as pessoas hoje em dia perderam. A capacidade de ter paciência, de insistir, quando as coisas não estão tão bem assim. Deparam-se com capítulos difíceis e decidem largar o livro. Resolvem deixá-lo de lado, procurar algo que julgam ser mais fácil, mais interessante. Mas, bons livros exigem dedicação. Exigem paciência, exigem esforço. A recompensa sempre vem, mais cedo ou mais tarde.
Eu atravessava dias felizes, dias difíceis, atravessava essa vida completamente insana com tamanha facilidade, com tamanho equilíbrio. Sentia-me completa. O que era um coração duro, cheio de cicatrizes e receios, tornou-se sereno, calmo. O livro foi meu remédio. Tudo o que havia conhecido antes de abri-lo, com aquela capa risonha e agradável, foi completamente esquecido.
Continuo a leitura. Todos os dias, lá estou eu, se não com o livro ao meu lado, com ele em minha mente. Os capítulos tornaram-se mais maduros, sem tamanha excitação inicial. Mas, permanece a urgência de estar sempre lendo um capítulo, sempre vivendo aquele sonho que me parece tão real. Permaneço acompanhando cada frase, cada palavra, ansiosa pra ver o que vem pela frente, mas aproveitando cada página, cada momento. É o meu livro de amor, de cabeceira, de pensamento. 

Ontem, 25.04.12, vi em algum lugar que foi o dia do amor. Fui buscar na internet e encontrei várias datas pra esse dia, então a informação não é nada segura. De qualquer forma, fiquei pensando se deveria mesmo esperar um dia especial ou uma data no calendário, pra falar sobre o que vivo todos os dias. Comecei então a escrever e confesso que foi difícil encontrar palavras, que pareciam fugir de mim e difícil também organizá-las, numa luta de sentimentos e frases incompletas. Escrever em primeira pessoa ou em terceira? Dirigir-me ao culpado de tamanha dificuldade? Ou falar do amor como se não fosse meu? Foi sem dúvidas, o texto mais complicado de se escrever. Mas, valeu cada dificuldade. Falar do meu amor nunca vai ser fácil. 

Amo você, dono do meu coração, frases, pensamentos e sonhos! 

 You make it real – James Morrison

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divagando, pensamento, textos

Tudo ainda depende do ponto de vista

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Deitada no meu quarto escuto a chuva do outro lado da janela. Ontem, a mesma coisa se repetiu, mas foi diferente. Engraçado como por vezes ligamos o tempo que faz lá fora ao que acontece aqui dentro, seja dentro de casa, seja dentro do coração. Chuva forte pode significar filme na sala de casa com o namorado, agarrada dentro daquele abraço que te faz sentir segura. Mas também pode significar uma discussão séria, briga feia, choro em posição fetal, com aquele ar melancólico potencializado pelo quê? Pela chuva. Ela permanece ali alheia a tudo que acontece, caindo como sempre faz, sem se importar pra quem vai se molhar, pra quem teve um dia horrível e tudo que não queria era um banho antes de entrar em casa. Simplesmente caindo. 
Com dias ensolarados não é tão diferente. Aquele sol brilhante pode significar pra alguns a alegria de viver, luz pra irradiar mais felicidade por aí. Pra outros, um enfado terrível, um calor, uma vontade de entrar num banho gelado e se fechar num quarto igualmente gelado. 
Dias nublados podem ser terrivelmente tristes, sempre à espera de um velório ou de uma rotina extremamente entediante. Assim como podem significar um tempo mais ameno, um deitar na cama quentinha e enrolar de edredom. Tudo depende de como se olha. Escutei ontem que os problemas têm a dimensão que damos a eles. Escutei também que a única pessoa que pode mudar uma perspectiva que tenho, sou eu mesma. E que como diz o texto de Charles Chaplin, tudo depende de mim. Eu que sempre tive resistência a escutar conselhos – e sofri as consequencias de sempre querer pagar pra ver – escutei. Clichês são clichês por algum motivo. Se foram tão repetidos assim, algum motivo tem. Resisti muitas vezes a fazer mudanças na minha vida. Por não ver solução alguma pro que estava passando, deixei acumular dores, incômodos e sofrimentos desnecessários. Esqueci de olhar a vida com um olhar diferente. Olhar de quem não tem medo de mudar, de quem decide se dar o direito de errar e acertar, de quem esquece as atenções voltadas pra sua vida e resolve vivê-la como bem entende. Mas ontem finalmente me lembrei de que melhor é enxergar os dias com a leveza que cada um tem. Sejam dias chuvosos, dias ensolarados ou dias completamente tomados por nuvens. Menos hora marcada, menos roteiro de afazeres, menos pensamentos acumulados, menos “hoje começo a dieta”, menos falar e mais fazer. Mais cada dia curtindo o melhor que ele tem a oferecer, afinal, – e aí vem mais um sábio clichê – pode ser meu último.
Yellow – Coldplay
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bolha de sabão, divagando, pensamento, sinceridade, textos, vazio

Em uma bolha de sabão

Outro dia esperando o ônibus – que demora uma eternidade pra passar – observei do outro lado da rua um garotinho brincando com bolhas de sabão. Seus olhos brilhavam a cada movimento suave, a cada cor que descobria e, ao mesmo tempo, se frustrava cada vez que tentava alcançá-las e que com seu toque, as estourava. Sua mãe sorria com suas reações e o ajudava a formar novas bolhas, encantada com o olhar maravilhado do filho por algo tão simplório. Subitamente, me peguei pensando em quantas vezes me senti dentro de uma pequena bolha como aquela.
Ao olhar pra baixo, o chão – ou melhor, a superfície –  era fluida demais, inconstante demais. Procurei qualquer suporte embaixo dos meus pés e o que encontrei foi um misto de ar e alguma tensão superficial que não me permitiu cair. De alguma forma, encontrei um jeito de permanecer ali dentro em equilíbrio, contando os segundos pra que tudo espocasse e se tornasse sabão e água novamente. Foi como ver todas as vezes que procurei por apoio. Foi como ver todas as vezes pisei em terreno estranho, com medo do novo e sentindo uma solidão quase palpável. Foi como ver todas as vezes que quase tudo ao meu redor estava prestes a desmoronar e me surpreender com a força tirada sabe-se de onde pra enfrentar o medo de estar só, de enfrentar o desconhecido e pra não permitir a fortaleza ao meu redor desabar.
Ao levantar o rosto, olhei em volta e me vi cercada por um brilho multicor, que insistia em imitar o arco-íris e que parecia refletir tudo ao meu redor. Distorcendo a realidade, me mostrava aquilo que eu queria ver. Como espelho invertido, me confundia. Exatamente da mesma forma que julguei ver nitidamente um caráter, e inesperadamente, toda a minha visão embaçou. Pensei em quantas vezes me enganei e ignorei tudo aquilo que estava bem na minha frente, com todas aquelas cores como sinal de alerta. E eu ali, indiferente aos sinais, achando lindo o espetáculo. Fechando e abrindo os olhos, numa tentativa frustrada de clarear a visão e as ideias, de por um momento me convencer que não havia engano algum, tudo permanecia da mesma forma: indistinto.
Então, tentei gritar. O eco que ressoou ali dentro me perturbou. Percebi que lá fora, ninguém podia escutar. E se escutasse, não poderia entender. Comecei então a falar, pra não esquecer quem eu era, as coisas que acreditava e o que eu não queria me tornar. De repente, minha voz tornou-se sussurro. Tornou-se sussurro e depois, cansada de repetir e torcendo pra que tudo já estivesse fixo em minha mente, me calei.
Tudo virou memória.
A senhorinha ao meu lado, depois de perceber meu olhar fixo, comentou: ”Criança dá importância a tudo, né?” Poderia contar a ela o que fiquei imaginando ao ver o menino com aquelas bolhas, mas se eu mal me compreendo, como fazê-la compreender tamanha quimera? Acordei então dos meus pensamentos e apenas concordei. Percebi que meu ônibus havia acabado de chegar. Pelo menos dessa vez a espera não foi longa. 
Hometown Glory  – Adele
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divagando, textos

Os retalhos

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Subiu as escadas correndo, demorou a encontrar as chaves dentro da bolsa e quando finalmente as encontrou, lamentou por já ter voltado. Entrou em casa com aquela felicidade incontida no peito. Uma satisfação por ter tudo o que tem e conhecer a felicidade que o mundo inteiro tanto busca ter. E sentiu, ao mesmo tempo, uma náusea irritante quando percebeu as inúmeras vezes que se entristeceu pelo simples fato de querer estar triste. Por não saber amar, por não saber dar o amor que tinha em seu peito. Percebeu cobrar demais dos outros o que dava de menos. Cobrar sorrisos enquanto não sabia retribuí-los, cobrar compreensão mesmo não querendo escutar o que tinham a lhe dizer, cobrar dedicação enquanto não fazia por merecê-la. Aos poucos, decidiu limpar sua bolsa acumulada de papéis velhos, recibos, propagandas, bilhetes e moedas abandonadas. Decidiu tirar da sua vida e de quem ela é aquilo que só atrapalha, que só ocupa o espaço que poderia estar preenchido de sentimentos bons. Decidiu tirar do rosto a cara emburrada por motivos pequenos, que insiste em engrandecer. Decidiu livrar-se dos pensamentos que só a puxam pra baixo, pra viver e ver que a vida é de fato bela. Mesmo cheia de remendos que a vida a obrigou fazer em si mesma, se reinventou. Inventou. Jogou os retalhos velhos no lixo, deixou o pano da sua vida com as cores que mais gostava, alegres, vivas. Há quem ache são joão demais, mas pouco importa. Há quem ache tudo sobre absolutamente tudo, e quem vive da opinião alheia, não vive. Começou a acreditar em si e nas suas ideias. Começou acreditar no amor que vive não como solução pra tudo – amor que é amor, não faz milagre – mas como porto seguro pra encontrar solução pra tudo. Projetou-se, planejou o futuro com a paixão de quem acaba de descobrir onde a sua felicidade se encontra. E começou a viver como quem recebe uma segunda chance, como quem desperta de um pesadelo pra acordar na vida que sempre pediu a Deus. E vai viver assim até a próxima vez que a vida lhe exigir trocar os retalhos já gastos, que na bolsa se acumulem mais papéis velhos e precise retirá-los mais uma vez.

Everything – Michael Bublé
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Crítica, sociedade

Enquanto isso, a sociedade perde o senso crítico.

Semana passada foi anunciada a nova formação da banda Charlie Brown Jr, que agora tornou-se A Banca. Com a morte do vocalista, Chorão, Champingnon assume os vocais e Lena Papini no baixo. Lendo sobre o fato, voltei-me para o dia em que Chorão morreu e a repercussão que o fato teve nas mídias sociais. A quantidade homérica de gente o intitulando poeta me abismou.

Então surge a pergunta: Onde ficam nessa história grandes poetas como Edgar Allan Poe, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa? Onde foi parar a capacidade de filtrar o que a mídia joga em cima de nós?
Sem hipocrisia, cada um de nós que fez parte dessa geração sabe cantar um trechinho que seja de uma das músicas do Charlie Brown, seja a abertura de “Malhação”, seja uma daquelas músicas que sempre tocavam no rádio. O meu ponto aqui são os extremos que surgem quando alguém de notoriedade passa dessa pra melhor. O processo natural, que é o de humanização – fez coisa errada, não era nenhum exemplo a ser seguido, mas era gente boa, bom coração – começa. E até ai tudo bem. Perceber que a vida é finita e que passa rapidamente nos sensibiliza, afinal, foi alguém que morreu e isso nunca vai ser natural para nenhum de nós. O problema é o que vem logo em seguida: a idolatria. Esquece-se das drogas, das escolhas erradas que fez e das consequencias que teve de arcar por causa delas. Já convivemos com tantos lutos na nossa vida. E não somente o luto relacionado à morte. Há pessoas que vivem o luto de pai por terem um pai ausente enquanto outras vivem o luto de mãe por terem uma mãe negligente. Já existem tantas coisas ruins pra termos pesar na nossa vida, pra quê mais? Não concordo com o extremo da canonização que as pessoas têm tendência a fazer. Se morreram é porque eram humanos assim como nós, com falhas e defeitos como nós. Entretanto, no outro extremo estão as críticas exacerbadas. O respeito a quem não pode mais se defender, à família e amigos tem que ser o limite pra comentários. Ninguém é bom ou mal em sua totalidade. Carregamos em nós ambos. É necessário percebermos que mais vale refletir sobre a nossa vida, em como ela é curta e mudarmos alguns comportamentos egoístas do que compartilhar inúmeras frases do cantor e colocar LUTO na nossa foto de perfil. A vida em sociedade não significa ser forçado à fazer parte da massa. A massa que compartilha fotos do Chorão porque todo mundo o fez, a massa que exalta os feitos de Margareth Thatcher sem ao menos saber quem ela foi e a contradição que representa, a massa que ignora o que é importante para se atentar ao que em nada lhes acrescenta. Não estou dizendo aqui que devemos adotar um comportamento exibicionista, indo contra tudo e contra todos para se mostrar diferente. Defendo o pensar. Defendo a individualidade e o senso crítico. Defendo o pensar antes de agir e falar. Somos influenciados sem perceber e acordar pra isso só vai fazer bem a nós mesmos.

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livro, resenha

Resenha – O Apanhador no Campo de Centeio

  O Apanhador no Campo de Centeio – J. D. Salinger

Comecei a ler esse livro no sábado e terminei na segunda, então já pode imaginar o quanto eu gostei e o quanto não é nada extenso. O livro pode aparentar ser cansativo e ter uma história simplista, mas foi o responsável por criar uma cultura-jovem, já que a adolescência nos anos 50 era ignorada pelos adultos. Pra você que lê o título e espera que exista de fato um campo de centeio, – eu particularmente imaginei que o livro se passasse aos arredores de um – o título trata-se de uma metáfora. Muito inteligente, por sinal.

Resumo

Publicado em 1951, o protagonista Holden Caulfield, 17 anos, conta uma breve história que se passa aos seus 16 anos. Depois de reprovar em quase todas as matérias, o adolescente rebelde de família abastada é expulso do internato para rapazes em que estuda e por não suportar a ideia de permanecer mais tempo ali, resolve voltar para casa mais cedo. Adiando seu retorno, começa a vagar pelas ruas de New York. A última coisa que ele deseja é estar em casa quando seus pais receberem a notícia de que ele reprovou mais uma vez.

“Não queria estar por perto na hora em que eles recebessem a carta. Minha mãe fica muito histérica. Mas melhora bastante depois que digere um troço completamente.”

Durante sua curta jornada, Holden apanha de um cafetão por uma noite com uma garota que sequer chega a acontecer, encontra-se com uma ‘’ex’’ chata só pelo prazer de não estar mais sozinho, perambula pelos bares da cidade à procura de algo para fazer e de alguém que responda para onde os patos vão durante o inverno, cada um desses acontecimentos regados a muito álcool e cigarros a todo instante. Sempre crítico, Holden nunca gosta completamente de algo. Para qualquer situação existe um comentário rebelde e depreciativo.

“Tomara que quando eu morrer alguém tenha a feliz idéia de me atirar num rio ou coisa parecida. Tudo, menos me enfiar numa porcaria dum cemitério. Gente vindo todo domingo botar um ramo de flores em cima da barriga do infeliz, e toda essa baboseira. Quem é que quer flores depois de morto? Ninguém.”

Decide então ir ver sua irmãzinha, Phoebe, por quem nutre uma admiração que não faz questão de esconder. Durante o encontro com ela, entendemos o porquê do título. Phoebe começa a perguntar sobre o que ele realmente gosta e o que gostaria de ser, já que vê no irmão críticas constantes sobre tudo. Ele responde que gostaria de impedir crianças que estivessem brincando num campo de centeio de cair no precipício existente nele. Podemos interpretar o abismo como sendo a maturidade, e Holden(HOLD THEM) não quer deixá-las cair nele.

“-Você sabe o quê que eu quero ser? – perguntei a ela. – Se eu pudesse fazer a merda da escolha? (…) Fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto, a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho que fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo.’’

Por fim, o protagonista decide nunca mais voltar pra casa. Marca um encontro com sua irmã para despedir-se dela, porém a pequena insiste em ir com ele, o que o faz – depois de um surto –  desistir.
Polêmicas sobre a obra
– O assassino de John Lennon, Mark Chapman, teria sido inspirado pelo livro a cometer o crime. O livro teria sido encontrado com Mark no momento de sua captura. Quando questionado sobre o motivo de ter assassinado o ex-Beatle, ele respondeu: “Leia O apanhador no Campo de Centeio” e você descobrirá porque o fiz. Esse livro é meu argumento”.
– John Hinckley Jr, atirador que tentou matar Ronald Reagan, alegou agir sobre o comando do mesmo livro.
– No filme a Teoria das Conspirações, Mel Gibson atua como um lunático que compra todas as cópias do livro, sem o ler uma vez sequer.
– A banda Green Day cita Holden Caulfield em cinco álbuns da banda, e tem uma música com o título “Who wrote Holden Caulfield”? (Álbum Kerplunk!, 1992)
Na música In Hiding, da banda Pearl Jam, a letra fala sobre encontrar a casa de Salinger, autor do livro.
Minha opinião
Gostei muito do livro. Comecei a ler a obra tendo na cabeça todo o misticismo que o envolve, mas aos poucos fui me desvinculando de todas as teorias de conspiração ao redor dele e me prendi ao personagem. O personagem no fim das contas é um chato rebelde, mas de uma sensibilidade e capacidade de reflexão incríveis. As gírias usadas nos aproximam do protagonista, tornando suas críticas por vezes até engraçadas. No fim das contas, é um livro que vale a pena ser lido. Só não o recomendo para quem gosta de livros com grandes aventuras e ação, já que a leitura pode tornar-se amarrada em alguns momentos, mas história por trás da história é incrível. É um livro para se ler e atentar para os detalhes, metáforas e colocações muito inteligentes de Salinger. 
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divagando, textos

De dentro de um táxi

A música irritante me desperta no susto. São 5h45 da manhã e como essa noite passou voando! Parece que sempre que tenho um sonho, a madrugada passa mais rapidamente do que de costume e acordo mais cansada do que deveria. Vou dormir pedindo por um sono bem tranquilo, um fechar e abrir de olhos que me descanse de verdade, mas nem sempre sou atendida. Jogo o celular o mais longe possível, como quem se livra de um encosto. Adiar o alarme comigo não funciona – só me irrita – fico naquela de meio-cochilo, esperando o celular tocar. Resolvo levantar logo, ficar deitada ali é ter certeza de pegar no sono de novo, dessa vez sem nada pra me despertar a tempo de ir pra aula. Os olhos pesam, sofrem pra abrir, lutando contra o dia que começa a nascer. Estico-me inteira, agradecendo a Deus por mais um dia de vida, mas com vontade mesmo de pedir um dia de folga. Saio de casa na ânsia por voltar. E assim vai a manhã inteira, um entra e sai de professores, intercalados por olhadas frenéticas pro relógio, como se isso de alguma forma fosse acelerar o tempo. Assistir mais aulas de biologia e química seria torturante pra mim e por fim, resolvo a questão das aulas. Voltaria 14h pra começar a assistir as matérias que realmente vão cair na minha prova. Almoço rapidamente, chego em casa – louca por um banho e minha cama, mas dos dois, só me cabia o banho mesmo – entro no banheiro torcendo pra não acordar minhas ites(rinite, sinusite, todas as ites que puder imaginar) por lavar meus cabelos aquele horário, me visto o mais rápido possível e volto pra aula. Passo mais 4h assistindo aulas de diferentes matérias, o que me fez recuperar o prazer em estudar, além de ser uma sala nova, pessoas novas, coisas que dão um ânimo na gente. Saio de lá com a cabeça quase explodindo, havia esquecido o óculos em casa. Por fim, ainda tinha o curso de inglês. Corro até lá, entrego o homework e entro num táxi de volta pra casa. Não aguentaria passar mais 2h repetindo “How is the weather today?”. Sentada dentro do carro, sinto o peso de passar o dia correndo, entre aulas e intervalos entre elas. Começo a sentir aquele sentimento que de vez em quando invade o peito – aquela tristeza sem motivo certo – acompanhada do peso na consciência por saber que tem gente na pior de verdade, e eu aqui, com minha vida cheia de regalias. Mas eu meio que não sei como parar, às vezes um bom carinho costuma resolver, sou dengosa de marca maior. Hoje, não sei, foi diferente. Encosto minha cabeça no vidro e olho pela janela, me sentindo completamente esgotada. Normalmente, é bom sentir esse cansaço. Cansaço de dever cumprido, de ter tido um dia produtivo. Mas hoje não. Hoje foi um cansaço diferente, daqueles em que sua única vontade é de chegar em casa, deitar na cama e pedir que o sono chegue logo e te segure ali na cama até que aqueles dias beges tomem alguma cor. Hoje senti o cansaço de quem cansa mais do que o corpo e a mente, de quem cansa a alma. A vida é mesmo assim, é como olhar através da janela de um carro em movimento. Observamos a rapidez com que os carros passam, assim como tantas vezes vemos nossa vida voar em frente aos nossos olhos. Observamos as pessoas indo e voltando, assim como tantas vezes elas entram e saem dos nossos dias, somente nos dando conta de que elas não estão mais lá depois de reencontrá-las por aí e nos sentirmos completos desconhecidos. Observamos as paradas que fazemos no percurso, assim como tantas vezes paramos no meio do caminho sem saber pra onde ir – e aquela história de que pra quem não sabe pra onde vai, qualquer caminho serve, pra mim não cola – e nos vemos perdidos em tantas estradas pra se seguir, em tantas setas apontando pra lados opostos.  De repente, o que era bom se torna ruim, basta apenas virarmos a cabeça pro lado, basta mudarmos a forma de olhar. Assim como observar a rua através da janela de um carro. 
Open your eyes – Snow Patrol
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As verdades não ditas

Hoje, andando por aí nesse mundo de sites, me deparei com uma frase do Jô Soares que até já conhecia, mas que da primeira vez que li, não reparei de fato no que diz: “As pessoas estão tão acostumadas a ouvir mentiras, que sinceridade demais choca e faz com que você pareça arrogante.” Relendo e repensando, percebi que pra mim, não é bem assim.
De fato, nos rodeamos de mentiras. As mentiras que nos contam no telefonema pra operadora de celular, mentiras que vemos na televisão, sem falar nos falsos moralismos que lemos no Facebook o tempo inteiro. Poderia passar um bom tempo discorrendo sobre isso. Nos adaptamos a ouvir mentiras e enquanto não nos afetam diretamente, por nós, tudo bem. O problema dessa frase é colocar ‘sinceridade demais’ como algo virtuoso. Não raro, ouvimos alguém dizer preferir a sinceridade acima de tudo. Mas será que prefere mesmo? Será que estamos realmente dispostos a encarar a verdade? Que resposta você gostaria de ouvir quando pergunta a alguém se engordou?
Num sábado à noite, você e seu companheiro entram em um restaurante e a primeira pessoa com a qual ele se depara é com aquela ex que você definitivamente não gosta – mas não abre a boca pra dizer isso, afinal, seria parecer insegura demais. Mais uma verdade que você poderia dizer, mas não diz – e ele comenta sobre como ela está bonita. Fim da noite pros dois. Eu, particularmente, não me incomodo com algum comentário bem humorado sobre certa atriz (até porque, se eu fosse me importar com a Mariana Ximenes, coitada de mim). Mas, querendo ou não, sinceridade exige limite. Existem coisas desnecessárias de serem faladas, e isso independe de qual relação estejamos falando. E é importante perceber o quanto isso é diferente de falsidade. Os pais têm que ensinar a criança, que até certa fase não diferencia o que pode ser dito ou não, a falar o que convém. E ninguém chama isso de falsidade, pela distância existente entre a mesma e a conveniência. Todos nós sabemos como dosar essa distância, assim como também sabemos quando estamos sendo cruéis ao usar a sinceridade exacerbada.
Algumas coisas poderiam ser evitadas se tratássemos o que falamos com honestidade e zelo, furtando do nosso companheiro, amigo ou irmão de ouvir algo que vai machucá-lo e que não precisa ser dito. No calor de uma discussão, temos a tendência a falar deliberadamente sobre algo que vai gerar consequências terríveis no futuro. Algumas coisas ditas machucam profundamente e pra contorná-las exige tempo, dedicação e muita paciência.  Sinceridade é virtude quando é bem colocada. Quando passa do ponto, torna-se maldade. Entretanto, como em quase tudo na vida, meio termo é fundamental. Omitir a verdade necessária de ser dita pra quem está ao nosso lado com a desculpa de evitar sofrimento, é além de deslealdade, burrice. 

Say-John Mayer
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Quando a vida precisa de álcool e mentiras

Quase 1h da manhã de um sábado. Entro em casa e agradeço por ter chegado finalmente aqui. Piso no tapete macio e a sensação – completamente oposta ao salto que eu estava me equilibrando – me dá liberdade. Como é bom deitar na minha cama, abrir o notebook com um pacotinho de M&M’s do lado e ter um bom livro à minha espera. Do meu lado também, o celular. De súbito, me peguei descendo foto por foto de uma rede social e observando como as pessoas se tornaram mecânicas. Como o comportamento das pessoas se tornou quase que robotizado. A cada foto, um look do dia diferente. Os mesmos shorts com spikes, as mesmas calças listradas preto com branco,as mesmas fotos dos mesmos whiskys em cima de uma mesa, os mesmos colares gigantescos e batons vermelhos. Nada contra moda, nada contra o vestir bem e se sentir bem assim. O que me abisma é a falta de individualidade, são as cabeças pensantes substituídas por roupas e comportamentos sempre iguais. Hoje bonito é ser piriguete, bonito é defender a bandeira do ‘’ah, eu não to valendo nada’’. E digo isso com propriedade por ter saído desse mundo não faz muito tempo. Já me diverti muito dançando músicas com letra nenhuma, já bebi até não lembrar mais do que tinha acontecido na noite passada, já me vesti da mesma forma que todo mundo se vestia pra me encaixar. E é divertido, sim. É divertido comentar gargalhando com as amigas sobre a noite anterior. É divertido ter histórias pra contar, coisas bizarras e inacreditáveis. É divertido. Mas é vazio. Depois de um tempo, deitar a cabeça no travesseiro é perceber que não se tem mais nada a fazer ou sentir. A vida vai perdendo o sentido. O domingo chega e a ressaca vem como se fosse a morte preparando caminho. O dia se arrasta, assim como você faz pra chegar na geladeira e beber tantos litros de água a ponto de não aguentar mais de tão cheio. E os dias passam, até a próxima balada, até a próxima vez que você vai estar ali inebriado pelo som alto, fechando os olhos, acreditando na sua imortalidade e que nada é melhor do que aquilo que você sente naquele momento. As pessoas deixaram de valorizar a risada sincera e o olho no olho, pra dar lugar às superficialidades. O diálogo perdeu lugar pra um turbilhão de vozes que falam ao mesmo tempo, mas que não se escutam. As pessoas tornaram-se como bolhas de sabão. Lindas por fora mas completamente vazias por dentro. Frágeis. Eu hoje finalmente percebi o que eu realmente quero pra minha vida. Eu quero a tranquilidade de me vestir bem por querer me vestir bem, quero a paz de deitar minha cabeça no travesseiro e não ter tonturas, quero o alívio de não acordar no dia seguinte me sentindo culpada, quero a calmaria de estar sábado de madrugada em casa, lendo um livro e criando perspectivas de vida, criando um futuro. Ainda quero acreditar em fidelidade, em cavalheirismo, na inocência e honestidade das pessoas. Quero viver minha vida pacata e feliz, jogando conversa fora, almejando todo o sucesso que eu posso ter, mas em paz de espírito, em tranquilidade de consciência, em mente livre e pensante. Afinal, de pessoas vazias o mundo já tá cheio.

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